A pré-história do futebol não é nenhum relato sonhador como Peter Pan ou fantasioso como Odisseia 2001. Este não necessita de elementos fictícios para ser igual ou mais interessante, já que como bem sabemos a realidade sempre supera a ficção.
Estamos a ponto de adentrarmos em um novo mundo e de sentir a mesma sensação que os astronautas da Discovery ou de Wendy Darling ao chegar a Nunca Jamais. E não é mais que a emoção de descobrir algo desconhecido e maravilhoso mas que em nosso caso é real.
Ao fim e ao cabo, o futebol não é mais que outra enorme história que se foi indo e forjando ao largo do tempo por si só, e descobri-la implica submergir-se em cheio em seu conhecimento já que para entender o presente há que conhecer o passado.
O problema é que como em muitos esportes, acaba sendo complicado fixar um ponto de partida já que o futebol atual se reduz ao resultado de sua mesma evolução e dar a data de sua origem seria engana-los.
Portanto, e embora eles não sejam semelhantes ao que sabemos hoje em dia, vamos abordar uma série de esportes que foram trocando até chegar a sua regulamentação oficial. Assim como uma boa história devemos começar desde o principio mais remoto.
A origem de tudo
A civilização do antigo Egito é berço de inspiração e revolução sobretudo pela série de invenções que deixaram, e a bola não iria ser uma exceção. Se diz que eles mesmo criaram métodos de exercícios para melhorar suas saúdes e resistência introduzindo a ginástica, a luta ou o tiro com arco. Entre estes esportes se encontrava uma série de jogos com bolas feitas de fibra de palma ou papiro e envoltas em couro ou tela.
Os historiadores encontraram evidências em distintas tumbas e templos como o de Ramsés III, na qual podemos apreciar cenas onde se vê a jovens passando a bola com as mãos e os pés como parte de um rito a fertilidade. Envolviam sementes em telas de cores e depois as chutavam para espalhar as sementes pelos campos de semeadura.
Ulama Mesoamericano
Ao Maias são considerados gênios e adiantados para sua época. Ao redor de 1400 a.c no México e difundindo-se por toda região Mesoamericana, surgiram os esportes com bola onde se destacava o ulama. Sabe-se do grande valor religioso que os maias davam a vida e o ulama foi criado para estes fins.
Era utilizado para rituais e dirimir conflitos, assim como formular perguntas aos deuses. Cada equipe representava o sim ou o não e ao final da partida o resultado era tomado como resposta. O jogo consistia em passar a bola por um anel de pedra ajudado pelas mãos, pés, quadril e cabeça em equipes que iam de 2 a 5 jogadores.
Tinha um forte simbolismo e cada elemento representava diferentes dualidades da cultura. A bola era o sol e a guerra. Os anéis de pedra o amanhecer e os equinócios.
Enquanto que o campo era um portal em direção ao submundo. Sua prática era vista como uma batalha entre a noite e o dia, a vida e o submundo chegando inclusive a sacrificar a equipe perdedora.
Episkyros Grego
Já devemos aterrissar na Europa, mais concretamente na Grécia para falar do episkyros. O primeiro jogo de bola do Mediterrâneo de que se diz que até Platão praticou.
Lá pelo ano 2000 a.c tanto os homens como as mulheres começaram a jogar com uma bola chamada Follis, no que acabaria convertendo-se em um dos esportes estrelas do pais.
O Episkyros pode ser o link perdido do rugby compartilhando o afã de recuperar a bola mediante a força, dentro de um campo parecido ao do hockey e dividido em duas metades.
Cada parte do campo era atribuída a uma equipe e esta teria que manter a posse da bola sem que fosse arrebatada pelo time contrário, podia se utilizar tanto as mãos como os pés.
Sua essência era retratar a superioridade de um sobre o outro, o que servia para dar culto ao físico. Vários tamanhos de mármore no museu de Acrópoles mostram um homem dando toques na bola, preparando-se para uma partida de episkyros.
Harpastum Romano
Mais tarde apareceria em Roma o Harpastum. Dizem que adotaram o velho Episkyros quando as tropas de Alexandre, o Grande conquistaram a Grécia em 146 a.c e ali apreciou o esporte Romano.
Com um império tão aguerrido, era óbvio que deviam idealizar métodos físicos que trabalhassem todas as partes do corpo e o Harpastum cumpria as expectativas.
Com uma bola menor que a Follis e sobre um campo retangular parecido ao de rugby, seu objetivo era levar a bola a linha contraria do campo sem ser derrubado.
Para este jogo necessitava-se de grande velocidade, agilidade e esforço corporal já que a violência era permitida e muitos jogadores acabavam feridos.
Era majoritariamente praticado por legionários Romanos como aquecimento a cada batalha, Julio César foi um grande admirador do jogo e um dos responsáveis da extensão por toda Europa.
Cuju Chinês
Uns séculos depois durante a dinastia Song entre os anos 960 e 1279 d.c na China começou a se popularizar o Cuju, uma espécie de jogo com uma bola feita de bexigas de animais praticado tanto para o entretenimento como para competição. Durante este período começaram a utilizar as primeiras metas, uma pequena rede ligada ao extremo de dois canos de bambu e colocada no meio do campo.
Com a introdução do terreno competitivo colocaram metas, uma a cada extremo do campo. O objetivo era simples, fazer mais gols do que o adversário usando qualquer parte do corpo exceto as mãos para ganhar a partida, essência que segue se mantendo 1000 anos depois no futebol contemporâneo.
Eram permitidos movimentos violentos como empurrões, posto que favoreciam a endurecer o caráter dos guerreiros nas expedições militares, no entanto com uma série de normas e limitações.
O Cuju era algo imprescindível nas celebrações de aniversários do imperador dada a aficção que tinha por este esporte. Duas equipes rivais, vestidas de vermelho e preto, competiam entre si e o que ganhava recebia ouro como prêmio enquanto a equipe perdedora recebia castigos como açoites ou pintar a cara de amarelo e branco.
Soule Francesa
Chegando a idade média encontramos a Soule, esporte que até finais do século 18 foi praticado na França durante as festas populares do pais. Costumavam competir dois povos ou bairros entre si e o objetivo era levar a bola (Se utilizava uma bexiga ou uma bola de couro) a um ponto determinado, frequentemente a porta da igreja.
Tanto as mãos como os pés estavam permitidos para trasladar a bola, chegando a se usar paus. Era um jogo violento e esgotador, as distâncias de um ponto a outro eram enormes o que dava mais emoção a este esporte, passavam dias inteiros até acabar a partida.
Vários reis estavam em desacordo com estas duras regras e seguramente esta foi a herança que o Harpastum deixou na França pois guardavam bastante similitudes no objetivo final. Por tempo é o jogo mais perto do rugby atual e seguramente foi graças a sua evolução que o famoso esporte de contato se estenderia e permaneceria na Europa, para dar lugar ao esporte seguinte.
Calcio Florentino
Para conhecer o seu irmão devemos voltar, mas esta vez a Florença para encontrar-nos com o Calcio Florentino, uma versão ainda mais violenta do que a Soule. Duas equipes de 27 jogadores se enfrentavam na “Piazza Santa Croce” utilizando tanto mãos como pés e o objetivo era anotar mais pontos que o rival.
Dois furos em cada extremo eram feitos de metas e se introduzia a bola e se somavam 2 pontos, em troca se errasse o disparo se adicionava meio ponto a equipe rival. O terreno de jogo era similar a um campo de futebol atual e cada encontro durava 50 minutos.
Dizem que era um esporte exclusivo para os aristocratas ricos durante as noites entre a Epifania e a Quaresma, chegando inclusive a participar vários papas do Vaticano. A partir desta época se cunhou o termo Calcio para referir-se ao futebol quando se começou a praticar. Atualmente segue se praticando em Florença, porém com pouco acompanhamento.
Football Britânico
Chegamos a Grã Bretanha entre os séculos 11 e 13, pais onde surgiria o futebol association, mas antes dele nas ilhas se praticava o futebol de carnaval. Dizem que foi inspirado na Soule, no entanto outros afirmam que foram as tropas de Julio César que ensinaram estas habilidades aos nativos britânicos.
Seja como for o futebol de carnaval se converteu rapidamente no esporte estrela da idade média jogado nos carnavais (dai seu nome) O jogo consistia em bater com a bola a pedra de um moinho e competiam povos e vilas entre si.
Se caracterizava pela desordem e caos das partidas dada a enorme quantidade de pessoas o que o convertia em violento. Vendo essa agressividade foram vários reis ingleses do século 14 que proibiram sua pratica como é o caso de Eduardo ll e Ricardo ll.
Mesmo assim o futebol seguia sendo praticado e no século 16 foi evoluindo dando origem a novas variantes como o hurling over contry que consistia em levar uma bexiga de couro a linha de meta (a linha estava separada por um povoado inteiro).
A raiz deste surgiu o hurling at goals com um campo e metas definidas, até que finalmente no século 19 chegou o Dribbling game. Jogo de dribles que se praticava nos colégios ingleses e que deu lugar ao futebol.
Pesquisa: Kevin (Driblando la Historia).
Foto: Segredos do Mundo.